Por Fernando Jácomo,
Se você tivesse me dito um ano atrás, que eu ficaria trancado dentro da minha casa, eu teria te contado, um ano atrás "Interessante; Agora me deixa em paz"
Desculpe por estar uma bagunça. Eu marquei um corte de cabelo, mas foi remarcado. Robert está um pouco deprimido, não. E então, hoje, vou tentar apenas
Levantar, sentar, voltar ao trabalho. Pode não ajudar, mas ainda assim, não pode doer. Estou sentado, escrevendo piadas, cantando canções bobas. Me desculpe, eu tinha ido embora
Mas olhe, eu fiz algum conteúdo para você. Papai fez de você seu favorito, bem aberto. Aí vem o conteúdo. É um lindo dia para ficar por dentro.
Assim começa o especial musical da Netflix Bo Burnham: Inside. Composto, dirigido, roteirizado, estrelado, filmado e editado (quanta coisa) pelo ator, comediante, músico e poeta (quanta coisa 2) Bo Burnham.
E Burnham nos conduz em um processo de criação em pouco mais de 30 metros quadrados em um estúdio cheio de equipamentos que valem 10 vezes o preço da casa em que ele decidiu passar a quarentena. Sem nenhuma crítica direta ao modus operandi em si, o filme fala exatamente do seu modus operandi do processo e sobre o ócio criativo, algo que muitos artistas, escritores e desempregados precisaram precisam ainda enfrentar na quarentena.
Enquanto temos uma parcela da população que vive à beira de um colapso nervoso de tanto trabalhar em reuniões remotas sem muito sentido, Burnham mostra o outro lado daqueles que precisam criar em meio ao caos que o mundo externo e interno se encontram.
Não é a toa que o início da obra se passe em frente ao espelho, pois é onde o artista precisa buscar suas maiores inspirações com a certeza de que muito provavelmente não finalizarão aquilo. É lidar com o fracasso e com o caos diariamente sem poder sair de casa - pois lá fora está pior.
Porém Burnham não fracassa e mostra facetas da produção de conteúdo e questiona a nossa necessidade de produção para entretenimento, tudo numa espécie de tiktok, stand-up e videoclipes que constroem o caos e colocam à prova toda a sociedade e sua majestosa modernidade líquida e digital que virou produtora e consumidora voraz de conteúdo digital de baixa capacidade intelectual.
Ninguém sabe ainda como sairemos dessa caverna de Platão cheia de dancinhas de tiktok ou como ficará nossa cabeça quando a pandemia for embora de vez. Burnham ensaia o final de forma até freudiana quando sai do pequeno estúdio mas ainda assim, um mistério - até mesmo para ele.
Talvez a dança do tiktok seja como aqueles vídeos de família em que todo mundo descia na boquinha da garrafa e que hoje reza-se para ninguém veja a sogra dançando até o chão - por sorte, não está em nenhum servidor da Amazon AWS de Jeff Bezos, diferente do tiktok. - A solução talvez será uma avalanche de auto-react próprios após, uma grande quantidade de matrículas em escolas de dança ou uma vontade insana de ter morrido nesse período "quarentenal". Mas como essa última opção não é possível, o que resta é a "nudez" já exposta.
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