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Por Fernando Jácomo,
No recente caso envolvendo o banimento de Donald Trump das principais redes sociais (Instagram, Facebook e até Twitch [update: twitter baniu Trump permanentemente em 07/01]) a rede bolsonarista preocupada com os problemas dos Estados Unidos que impactem a dominação atual dos governos de direita, têm clamado por justiça nas redes sociais (fonte). Clamam por "censura".
Enquanto meu coração confere o banimento como necessário - uma invasão ao Capitólio por trumpistas armados, incitados pelo presidente estadunidense, ocasionando a morte de 4 pessoas [atualização: 5 mortes] (tudo sob a justificativa de fraudes nas eleições - sem provas até o momento) - minha razão me obriga a questionar a situação. Abaixo um pouco do que pesquisei.
Mas foi ou não foi censura? - Talvez muitos que pesquisaram de forma ampla, vão encontrar um artigo online da Isto é de 1999 (mais de 20 anos, puxa!) com o título "A censura necessária". Na época, Matrix - o primeiro - era o suprassumo da cultura pop e a humanidade ainda engatinhava no ambiente online - artigo disponível aqui (escrito por Norton Godoy e capturado no dia 07/01/2021).
Ele é um bom ponto de partida, pois segundo o texto, "por muitos anos os ativistas pelos direitos humanos combateram a censura praticada por governos ditatoriais. Hoje, essa briga começa a se voltar para um espaço onde, paradoxalmente, a maior bandeira sempre foi a liberdade de expressão, a Internet. Eles defendem agora a privacidade dos mais de 150 milhões de pessoas de todo o mundo que transitam diariamente pela grande rede de computadores. Desde que a Internet passou a ser um espaço virtual de imenso potencial econômico, a privacidade deixou de ser um direito de seus usuários para se transformar em uma mercadoria valiosa. Sem saber, a grande maioria dos que trafegam na rede tem seus dados pessoais roubados silenciosamente por companhias que vendem esse tipo de informação. Reunidos na semana passada em Washington, na conferência anual da CFP – Computers, Freedom and Privacy (Computadores, Liberdade e Privacidade) esses ativistas reconheceram os dois lados da mesma moeda e pediram aos governos algum tipo de censura na Internet. (...)"
Obviamente que o texto segue uma linha focada no que hoje derivou a recente LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e em riscos que acabaram ocasionando a venda de informações pessoais de usuários das empresas do Vale do Silício - Um resumo do que o artigo previu está no documentário "o dilema das redes".
Uma coisa que o artigo de 1999 não previu, é que na verdade não importa muito mais a coleta de dados pessoais (isso dificilmente teremos como impedir - batalha perdida) mas o que preocupa é o que é feito com esses dados. Nesse ponto, o ponto de fusão entre pessoal e publico chocam. De um lado temos as leis como a LGPD e GDPR e do outro temos as políticas dos sites sobre o que postar ou não para garantir um ambiente saudável e livre de toxidade.
Mas mesmo assim, esse processo está em evolução, pois o publico tem se apossado das redes para seu projeto de propaganda. E tirando o fato que existe a teoria de que as eleições da Direita frutos de Fake News - haja visto o gabinete do ódio no Brasil e da interferência russa no processo de difusão de informações no trumpismo - os presidentes desta linha têm tido atitudes populistas (e costumeiramente tóxicas) que beiram ao orgasmo para conservadores: defendem a familia, tem pensamentos pesados sobre imigração, condenam os movimentos feministas e LGBTQIA+ e, em alguns casos, acreditam que racismo não existe e são antivacina.
A discussão passa a linha da opinião e governantes (e seus seguidores) se tornam peritos em temas que nunca estudaram - como se eu, um programador e futuro historiador de formação discutisse virologia como se soubesse mais que um microbiologista.
Sem tempo irmão - Em um período, como casos de George Floyd e COVID-19, fica difícil aceitar pessoas que aceitem que racismo não exista e que sejam antivacina, por exemplo. Não é opinião, é perigoso! Medidas provisórias, leis ou mesmo ações macro, impactam a vida de minorias.
Exemplo - Hipoteticamente imagine que 50% da população que apoia um desses líderes, opte por não tomar a vacina contra COVID-19. O potencial de se atingir a imunidade coletiva vai por água baixo com o risco da transmissão permanecer alta, os hospitais permanecerem cheios, o sistema de saúde pifar e até mesmo o vírus sofrer mutações. Sendo assim, a sociedade não tem mais tempo de discutir esses temas com milhares de casos diários de morte. (fonte)
Este indivíduo na foto não é um viking, mas um eleitor do Trump, invadindo o Capiatório no dia 06/01 Fonte |
O caso Trump - Para o caso de Trump, existe a 25a emenda, onde considera que o vice-presidente pode se tornar presidente interino se ele e a maioria do Gabinete declarar que o presidente não pode mais exercer o cargo.
Se Trump ou mesmo sua equipe conhecessem de política, teriam lido as políticas do facebook, que apontam que, entre vários delitos, fake news são passíveis de bloqueio.
Sobre a invasão, não estamos falando de uma revolução ou de uma primavera árabe. Quando um líder expressa uma opinião sobre um tema é algo a ser considerado, mas quando um líder incita de forma ampla um ataque e grupo de pessoas invade o Capitólio ocasionando a morte de 4 pessoas [atualização: 5 mortes] acusando largamente nas redes sociais que as eleições foram um processo fraudulento - sem provas - com um risco de Golpe de Estado... acho que está infringindo algumas regrinhas do Facebook. Basicamente, o que o artigo de 1999 previu está sendo aplicado pelas redes sociais - e o Bolsoliro que não fique esperto com suas redes.
Portanto, não foi censura e acredito que nada impede de Trump criar uma conta fake... afinal de contas quando um gato está usando um computador, na Internet ninguém sabe se você é na verdade um cachorro.
Fernando Jácomo é analista de sistema e estudante do último ano de História. Atua em diversos produtos online e diariamente precisa lidar com as questões de privacidade. Atualmente fica imaginando como seria se a irmandade dos Assassinos do século XI existisse até hoje igual nos games do Assassins Creed.
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