De todos os Karatês Kid que eu assisti (incluindo o desconhecido Karatê Kid 4 e Karatê Kid de 2010) particularmente o melhor deles é o 2. Enquanto nos demais você tem uma construção muito focada em cima dos caratecas e seus campeonatos, no segundo filme a arte marcial ganha ares mais viscerais como antigos filmes de samurai e kung fu.
No filme de 1986, a paisagem de Okinawa se torna um personagem adicional enquanto seus moradores ganham espaço para expandir o seu universo. Nele, sr. Miyagi é balançado por questões como amor e honra, demonstrando-se uma figura humana cada vez mais sábia. Note que cada palavra de Miyagi soa como um provérbio de Lao Tzu - ainda mais na voz do grande Pat Morita.
Nesse contexto, as palavras "honra" e "ego" entram em conflito e a luta final entre Daniel e Chozen num castelo abandonado se iguala entre as melhores lutas do cinema - como uma pátina do combate de Chuck Norris vs Bruce Lee no Coliseu romano.
35 anos depois, entra então a terceira temporada de Cobra Kai (lançada no dia 1o de Janeiro de 2021 na Netflix). Personagens do primeiro e do segundo Karate Kid retornam desta vez para mostrar que o sentimento que Johnny (William Zabka) e Daniel-san (Ralph Macchio) nada mais é do que o ego disfarçado de honra.
Honra e ego são problemas que adolescentes normalmente encontram - no geral no bullying, nos esportes, nos romances nada duradouros - mas que podem carregar para a fase a adulta, fazendo o individuo virar um verdadeiro c*zão.
Os estudantes de John, Daniel e de Kreese (Martin Kove em uma atuação odiosamente ótima) passam a ser reflexos do mesmo problema e, somente quando eles também percebem que estão sendo verdadeiros c*zões, eles começar a tentar colocar as coisas no eixo após o incidentes entre os alunos na escola deixando sequelas graves para cada um deles.
Temos ainda como linhas transversais a superação do menino Miguel (Xolo) e a história dos demais estudantes. Contudo nessa nova temporada, temos dois arcos que chamam a atenção: a jornada de um jovem Kreese (Barrett Carnahan) no Vietnã - que torna o personagem mais valioso e mais odiado ainda - e a jornada de Daniel em Okinawa em busca de respostas.
Note que neste último caso, eles trouxeram vários personagens, incluindo a "menina do sino" de Karatê Kid 2, Traci Toguchi - que carinhosamente chamamos ela de "Tasukete" ("socorro" em Japonês - sua principal fala no filme de 86). A personagem na verdade se chama Yuna e é vice-presidente de uma empresa japonesa na história. Bad Ass!
A atuação dos adolescentes ainda não chega aos pés do universo de Karatê Kid - não que Zabka e Macchio sejam bons atores, mas eles são a cara do universo, então a gente releva. A ausência mal explicada de Aisha (Nichole Brown) também incomoda. A série também não é nenhuma referência para tratar de assuntos mais globais como racismo, homofobia ou gênero - apesar de ter tido oportunidades mas descartar todas elas. Porém, é na odiosa vilania dissimulada interpretada por Martin Kove e na presença especial e retorno de Chozen (Yuji Okumoto), Kumiko (Tamlyn Tomita) e Ali (Elisabeth Shue) que os personagens crescem nesse novo arco e a história começa a ganhar corpo.
As ações aqui precisam ter maiores fundações, necessárias para quando se expande um universo. A fórmula é parecida com a de Karatê Kid 2, que precisou ir nas raízes de Okinawa para poder se expandir.
Nisso, Cobra Kai faz bem em sua terceira temporada, talvez a melhor temporada até aqui.
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