Por Fernando Jácomo,
Você já ouviu falar do game P.T.? Se você nunca ouviu falar, saiba que nada tem a ver com aquele partido político controverso. P.T. vem da expressão "Playable Teaser", uma espécie de demo jogável que introduziu o jogador em uma experiência inédita. O projeto foi lançado exclusivamente para o PlayStation 4 em 12 de agosto de 2014 como download gratuito na PlayStation Network e servia principalmente como um teaser interativo para o jogo Silent Hills.
Essa versão de jogo, era acima de tudo muito bem feita e melhor do que muito jogo completo - não bastasse, o jogo era uma produção de Hideo Kojima. O problema entretanto é: o game foi cancelado e removido da Playstation Network logo em seguida. E aqui começa o nosso maior problema
Quem conseguiu baixar P.T. até a data de sua remoção possui um playstation com uma raridade inigualável, pois o jogo simplesmente deixou de existir. A tendência é que essa ótima produção desapareça para sempre conforme as pessoas forem abandonando seus consoles.
E assim como P.T., dezenas de outros jogos também deixaram de existir conforme seus consoles foram sumindo, especialmente consoles como 3DO, Jaguar e o famigerado Zeebo.
Cenas de P.T. |
Além do mais, videogames antigos possuem um inimigo maior do que a falta de sucesso, os desacordos e o esquecimento: o tempo, é sem dúvida nenhuma o maior vilão. Isso porque jogos lançados em cartuchos ou mesmo os consoles capazes de processarem tendem a se deteriorarem com o tempo.
A solução para o problema surge no paradigma - ou na hipocrisia. A única forma de grandes lançamentos não ficarem esquecidos é por meio da pirataria, seja ela na codificação de ROMs, seja em remakes indies ou mesmo na reprogramação de cartuchos para que estes aguentem um pouco mais os anos.
O paradigma aqui ocorre com a criminalização da pirataria: cópias ilegais (edit: ou a reprodução não autorizada de uma propriedade intelectual) é crime. Um exemplo é o de Streets of Rage Remake, lançado por fãs com o objetivo de melhorar os jogos e homenagea-los. Porém a mensagem não foi entendida pela SEGA e o game precisou ser retirado imediatamente do ar (fonte). Os danos foram mínimos, uma vez que a SEGA relançou o game em coletâneas tanto para a PS3 e Xbox 360 quanto para PS4 e Xbox One. Porém isso é relativo.
Streets of Rage Remake |
Grandes games da SEGA como Imortal, Chakan, Castlevania, World of Ilusion, Castle of Ilusion, Sonic & Knucles, Ultimate Mortal Kombat 3 e outros, nunca passaram perto de suas coletâneas e, se não fossem pelas ROMs ou reprogramação de cartuchos, ninguém conseguiria jogá-los mais, uma vez que o mercado de games de colecionador é pouco comercial e bem caro.
Porém o protecionismo pela patente e pela marca não é um traço exclusivo da SEGA. Outras grandes como a Nintendo e a Sony possuem na conta uma série de jogos raros impossíveis de localiza-los se não fosse a possibilidade de se copiar discos ilegalmente. É o caso da biblioteca de PS One e PS2 que, apesar de serem gigantescas, pouco se reaproveita delas. São inúmeros jogos como Mercenaires, Lupin The Third, Fatal Frame e The Simpsons Hit and Run, que se não fosse a pirataria, teriam sido deixados de lado.
No artigo "Porque alguns jogos estão em risco de desaparecerem para sempre", Heather Alexandra, repórter da Kotaku explica que houve casos que talvez jogos tenham passado despercebidos:
"Um dos exemplos mais graves disso é a versão original de Final Fantasy 7. Os trabalhos naquele game começaram em 1994, quando se pretendia fazer um título para Super Nintendo. (...) Uma imagem do jogo pode ser encontrada nos livros de memorial de Final Fantasy 25th Anniversary Ultimania. É uma das únicas provas materiais de que o projeto existiu (para SNES). (...) ... a maioria das pessoas só conhece a versão de Final Fantasy 7 que foi lançada."
Concept arte de Final Fantasy VII para SNES |
Além do risco de desaparecimento dos jogos por toda essa questão mercadológica, também existe o fator popular. O documentário "Paralelos" vai além e diz que mesmo a pirataria sendo um problema para artistas e empresas, se não fossem as gambiarras locais durante os anos 70 e 80, não existiriam jogadores e a cultura de games no país. Dividida em três episódios, a série narra a popularizacão dos arcades modificados nos anos 70, o surgimento de consoles e jogos piratas nacionais e a era dos emuladores por meio de depoimentos de quem viveu dentro e fora da indústria, como João Costa, o primeiro funcionário da Taito no Brasil. O documentário pode ser conferido aqui.
O mercado de Paralelos no Brasil foi responsável pela popularização no país |
Obviamente que não queremos que a pirataria seja a solução para todos esses problemas - e muito menos queremos incentivá-la - porém as empresas detentoras desses produtos pouco fazem para resolver a questão e cada vez mais jogos acabam entrando em um limbo perigoso e boas histórias, bons produtos e bons jogos se tornam apenas um eco de um passado que se importou mais com o seu poder de mercado e menos com o seu valor cultural.
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