Imigração, Nazismo, Liderança, Feminismo, causas LGBTQ+ e Racismo foram temas que culminaram na vitória da França.
No último domingo (15), as câmeras estavam voltadas para Moscou, em uma partida de futebol histórica onde de um lado tínhamos a França, uma seleção composta por filhos de imigrantes africanos (1), e do outro lado tínhamos a Croácia, pela primeira vez na Copa, marcada por polêmicas nazistas (2) mas com uma história igualmente complexa - somente em 1991 se separou da Iugoslávia após uma série de conflitos entre croatas e sérvios (3).
Dizer que o time da Croácia "é nazista" é simplificar em muito a mistura ideológica que o século XX causou na cabeça dos Croatas e que ainda se sustentam como uma nação sólida com uma pátina demarcada por duas guerras mundiais, guerras civis, guerra fria e a eterna luta do comunismo e capitalismo que derramou sangue croata e sérvio na região dos Balcãs. Não é de se estranhar que as mais infindáveis ideologias vão nascer de um país que precisa se auto-afirmar como nação: não tem 30 anos de existência democrática.
Também dizer que o time da França é um time miscigenado novo é desconsiderar a seleção de 1998 onde já carregava o fardo da opinião da extrema direita francesa. Em 1996, Jean-Marie Le Pen, pai da candidata derrotada, Marine Le Pen revelou na época: “Os Les Bleus não cantam o hino nacional ou parecem não saber a letra. Acho artificial recrutar jogadores estrangeiros e chamar de ‘seleção francesa''”. (4) (5). Vale lembrar que Zinédine Yazid Zidane é argelino e símbolo do futebol francês.
Líderes molhados... menos Putin - Há uma importância nesse embate de seleções que culminou na segunda vitória da França. Além do bom futebol - que culminou na vitória da França - o jogo foi marcado por invasões em campo e por uma entrega de medalhas extremamente simbólica.
Notem que durante todo tempo, sob forte chuva, enquanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin entregava seus cumprimentos e medalhas aos jogadores sob um guarda-chuva, Emmanuel Macron (presidente da França) e Kolinda Grabar-Kitarović (presidente da Croácia) se molhavam (de chuva e de emoção) para agradecer cada um dos jogadores por aquele momento histórico. Ambos demonstraram um senso de empatia (talvez motivado por razões políticas) em se igualarem à jogadores e técnicos com um só.
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| Kolinda no lado direito agradece ao treinador Zlatko Dalić pelo bom jogo, enquanto Macron vibra sob forte chuva. Putin decide seguir o protocolo antiquado e se protege da chuva. Não há espaço para emoção. |
É de se perguntar se Donald Trump, Michel Temer ou mesmo Angela Merkel teriam a mesma atitude. Obviamente que tanto Macron quanto Kolinda são novos (estão nos seus 40 e poucos anos), o que não se compara aos senhores acima citados, mas há de se pensar se o mundo não está realmente se renovando - de alguma forma, mesmo que devagar. Putin foi muito criticado diante da sua postura, afinal de contas: dane-se o protocolo. (6)
Obviamente que estamos diante de dois exemplos neoliberais e centro-direitistas mas que de alguma forma trouxeram um suspiro ao mundo diverso em que vivemos. "Ainda é possível sonhar".
Diversidade e Feminismo em pauta ... mas ainda só de fachada - É de se levar em consideração como o feminismo foi bem colocado durante a copa. Mesmo com algumas pequenas pitadas (talvez necessárias) de exagero, em outros momentos tivemos uma forte busca por questionar o papel da mulher na sociedade.
Desde os casos de abuso que foram expostos e denunciados (como o caso do b**eta rosa), os "pais de família" envolvidos exemplificaram que são eles os que mais cometem casos de assédio sexual (verbal ou físico) à honra da mulher.
Em meio a tudo isso, a invasão do grupo musical e feminista Pussy Riot no segundo tempo na final do campeonato tinha um caráter mais local, denunciando prisões e até as atitudes do governo Putin frente às mulheres e a comunidade LGBTQ+ no país. Porém esse ato nos faz pensar que a luta das mulheres e constante e ainda muito simples.
Assédio e Racismo ainda não foram julgados - Em paralelo à tudo isso, tivemos o caso do You Tuber Cocielo que diante de um comentário racista com relação à Mbappé (da vitoriosa França - não podia ser de outro time, pasme!), perdeu patrocínios, se afastou da rede, mas até a data de hoje, não responde à nenhum processo de racismo que (pasme de novo) é crime no Brasil. (7). Mesmo que os anunciantes tenham soltado suas "notas oficiais", parece que os casos como esses são esquecidos pela grande rede Globo. Mesmo com uma reportagem ou nota falando de algum caso, a rede Plim Plim parece ter ignorado o fato de que o problema ainda não acabou.
A cereja do bolo da amnésia foi quando a rede se despediu de suas transmissões com um "Até daqui QUATRO anos". Mesmo na boca da assumida Fernanda Gentil, é estranho.
Será que todos se esqueceram completamente que daqui UM ANO teremos a Copa do Mundo Feminina de Futebol na França. Campeonato que conta com jogadoras de ponta e com grandes chances de vitória para o Brasil.
Infelizmente sem os mesmos patrocínios, sem a mesma atenção, sem a dispensa do patrão nos dias de jogos do Brasil, dificilmente a Globo teria tal interesse... ou seja, machista. Mas em defesa de Fernanda e de alguns bons profissionais do canal, este é um fato que não se limita ao grupo Globo ou ao Brasil, mas que está presente em todos os países.
Por fim, vale lembrar que todos os casos de assédio e racismo, contam com a presença de homens brancos, pais da boa e velha família tradicional brasileira de classe média alta e onde, muitos deles, ocupam cargos de influência no mercado e no governo. São homens como Putin, que possuem um guarda-chuva para se protegerem durante a cerimônia "de coroação" de seus jogadores.
Oportuno mesmo é a Copa Feminina de 2019 ser na França...
Fontes
2- https://www.cartacapital.com.br/diversidade/o-show-controverso-da-croacia-dentro-e-fora-dos-campos
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