Particularmente eu tenho um pouco de preconceito quanto à séries colegiais. Alguns dramas muitas vezes parecem exagerados demais para coisas simples - tempestade em um copo d'agua. Sei que enfrentamos isso na nossa adolescência, mas olhar problemas tão micro, me deixam um pouco com preguiça.
Aliado à isso, eu particularmente odeio filmes como "Ao Mestre com carinho" ou qualquer derivado onde o professor ou o treinador resolvem problemas do colegial. Até o mangá Great Teacher Onizuka (GTO), apesar de bem escrito no final parecia piegas.
Gente! Eu sei, isso é puro preconceito!
Porém, anos sem consumir esse tipo de conteúdo, fui convidado à assistir uma série catalã do Netflix sobre um professor matuto que ensina filosofia: Merlí.
Estranho como caí nos mesmos clichês que sempre odiei, mas é estranho também como alguns episódios depois, eu estava apaixonado pelo Merlí (o professor). A série aborda os mesmos tipos de dilemas que os alunos de GTO e Malhação sofrem, porém a diferença é que Merlí os resolve tudo na base da Filosofia.
Durante os 3 anos de colegial (que se resumem em 3 temporadas) você passa a fazer parte dos Peripatéticos (como eram chamados os discípulos de Aristóteles) e como são chamados os alunos por Merlí. Os dilemas de colégio estão todos lá: a menina que é bonita demais, a menina que se acha gorda demais, o menino que se descobre gay e o bad boy que no fundo tem coração mole.
Entretanto Merlí não trata esses problemas de forma rasa e no final, todos são explorados sob o olhar atento da filosofia, que ora assume a forma física e simbólica de uma coruja branca. Cada episódio procura abordar um filósofo, de Sócrates à Marx e de Bauman à Foulcault, todos são digeridos, exemplificados e questionados pelo professor, pelos alunos e pelas ações desenvolvidas em tela.
Outro fator que sempre me incomodou nessas séries: o tema do Bullying. Aqui o bullying acontece, mas sempre na "zona cinza". Não existem mocinhos e vilões, afinal hoje você pode ser o oprimido e amanhã você pode ser o opressor e são essas hipocrisias e incoerências que aproximam muito os personagens de fases de nossas vidas.
Pontas Soltas
No decorrer da série alguns personagens (especialmente professores) acabam terminando suas jornadas deixando pontas soltas: sem resolução para suas tramas. O que pode se assemelhar com uma crise de roteiro ou mesmo problemas de backstage (não excluo essa possibilidade), a série se propõe a explicar esses defeitos: a vida é assim.
Quantas pessoas você conhece que têm história, planos e predicados suficientes para conquistar o mundo, mas que somem de nossas vidas (algumas de forma trágica e outras de forma natural: paramos de vê-las).
Essa é a vida, uma sucessão de insucessos, incertezas, sumiços e problemas que a filosofia tenta não apenas explica-las, mas induzi-las ao pensamento humano comum.
Ah! E como tudo é piegas nesse tipo de série, no final eu estava chorando... Ainda não sei se é pela dor de talvez nunca mais ver os peripatéticos do Merlí ou se é porque não tenho um Merlí de carne e osso do nosso lado para nos fazer pensar sobre os problemas da vida.
Nota (1-5): 4,5
O Melhor: Merlí e seus peripatéticos vão fazer você se apaixonar por eles
O Pior: Poderia explorar mais os dilemas dos professores
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