Por Fernando Jácomo,
Recentemente comecei a ver muitas pessoas e vídeos tentando responder uma pergunta um tanto simples, mas complexa: o que levar na mochila no caminho de Santiago?
Como toda viagem, nos preocupamos com itens básicos como remédios, roupas de frio, capas de chuva, higiene etc. Porém dentro de minha pesquisa encontrei um texto interessante com o título (auto-explicativo): "A Vida é uma viagem que não permite excesso de bagagem" (link).
Esse texto me fez olhar um aspecto menos técnico e mais reflexivo: o quanto nossa necessidade por segurança pesa?
Que fique claro que não estou querendo aqui pedir para largarmos tudo e nos arriscarmos em uma caminhada de dias sem o mínimo de sobrevivência e com a roupa do corpo. Há um preparo físico e técnico necessários para se fazer uma trilha, especialmente considerando a bagagem no caminho de Santiago.
Entretanto pude fazer um contraponto das minhas bagagens que faço quando viajo com minha vida.
A beleza dessa análise se torna mais rica ao analisar peregrinos que costumeiramente colocam nas costas todo o peso desses itens necessários para sua vida. A questão inicial a ser pensada é o quanto essa segurança nos pesa?
O texto que havia encontrado, aborda um ponto de vista das perdas que temos pela vida. Perda de coisas que acumulamos e que precisamos nos livrar para seguirmos em frente - meu terapeuta costuma chamar esses itens na bagagem da vida de dívidas.
E a reflexão desse ponto é um dos presentes muito bonitos que ganhei em Santiago de Compostela: os itens que para nós nos são básicos, são na verdade representações pessoais daquilo que consideramos seguros (de alguma forma) para trilhar nossa jornada na existência desse plano. A necessidade do calor, a necessidade do frescor, a necessidade de ficarmos bonitos, sermos apresentáveis, a necessidade de ficarmos limpos etc. Ora, esses itens são importantes no nosso dia a dia e quem somos nós para julgarmos o que é melhor ou pior?
O problema muitas vezes, é que esses itens pesam muito e eles acabam também sendo figuras daquilo que consideramos um fardo em nossa vida.
Por fim, existem duas questões que nós precisamos fazer ao avaliarmos isso. Porém não sei ainda qual a melhor ordem. A primeira é: "serei capaz de carregar esse peso?". Já a segunda é: "O que preciso me livrar para ter menos peso?". Afinal de contas, até onde essa segurança é na verdade uma dependência?
Talvez não haja respostas imediatas para essas questões. O que há contudo é uma constante avaliação do peregrino em carregar seu fardo e conhecer seus limites.
Ao final, pelo menos, temos a chance de nos sentirmos vitoriosos, com o que somos e com o que temos, sejam eles necessários ou não.
Conhece o Entre a Cruz e a Concha?
Confira nosso vídeo com nossa subida ao Cebreiro.
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