Atriz Ellen Page: Assédio aos 16 anos. |
Por Fernando Jácomo,
O tema é polêmico, eu sei. Alguns dirão que é mimimi, outros dirão até que passarei panos quentes, mas meu objetivo aqui é causar uma breve reflexão.
Primeiramente vamos aos fatos: Ainda no final de 2017, a Youtuber Carol Moreira foi vitima de um assédio mascarado de "brincadeira", durante uma entrevista com o ator Vin Diesel. Além de deixar a apresentadora extremamente desconfortável com o excesso de cantadas, Carol não conseguiu finalizar a entrevista adequadamente e abandonou o local visivelmente desanimada. Apesar do que a mídia disse, Carol afirma em seus vídeos que nunca procurou processar Vin Diesel e que viu seu trabalho no momento ser prejudicado. Para ela não foi assédio, mas se fosse, a questão que fica no ar é: com a influência que Diesel tem sobre empresas como Warner, Fox e Disney, teria ela condições, estrutura e suporte para levar adiante uma denúncia?
Caro Moreira - Apesar de não ter levando nenhuma acusação adiante, o caso ilustra como as relações de poder podem levar a facetas diferentes do assédio. |
Os casos vieram como uma onda e, no último mês, Hollywood entrou nos holofotes com o caso de assédio de Kevin Spacey sobre o ator Anthony Rapp, quando este tinha apenas 14 anos. O caso levou ao afastamento de Spacey da Netflix e ao fato de seu seriado carro-chefe, "House of Cards" ficar na mira de um cancelamento rodeado de prejuízos.
E assim, como em uma barragem de eletricidade, as comportas foram abertas e atrizes e profissionais do entretenimento decidiram expôr casos particulares nas últimas semanas, como é o caso de Ellen Page - que teria sofrido assédio com 16 anos de idade e vítima de homofobia com 18 anos. Tais revelações se mostraram bombásticas e trouxeram consequências financeiras para o show business.
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Mas por que existe essa onda de revelações agora? No geral podemos responder isso com diversos argumentos: "força das mulheres/feminismo", "luta contra o conservadorismo"e até com "o avanço da internet" - que permitiu dar voz e exposição para as pessoas, suas idéias e relações. Mas acredite, esse não é o problema.
O motivo entretanto que me força levar você à um reflexão, não é somente questionar esses fatos, mas questionar o porquê disso estar virando notícia somente agora.
O termo "teste do sofá" é algo antigo em diversos meios (artes, empresas e até famílias), por que somente agora as pessoas decidiram se impressionar com o fato? E o pior, por que somente agora, após tantas exposições, os estúdios, produtoras e canais decidiram repensar o assunto?
Do ponto de vista do oprimido, é correto afirmar que faltava espaço, abertura e segurança frente ao opressor, que exerce uma figura de poder e influência, a ponto de poder destruir a carreira deste em situação inferior. O problema é, pessoas como eu e você que se chocam com essa notícia, tendo presenciado simulações (muitas vezes cômicas), como o caso do quadro "Teste do Sofá" do João Kleber, sabendo da existência desses eventos no dia a dia e nunca ter se impressionado tanto!
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Será que não tínhamos consciência também? De certa forma estamos evoluindo como um indivíduo questionador?
Tarde ou não, pelo menos a nossa indignação, as frentes de combate do meio artístico e a nossa abertura em pensar sobre o fato E é um avanço pensar que, esse quadro de assedio sexual existente nas relações de poder desde impérios seculares, precisar ganhar visibilidade, punição e discussão, principalmente para nos levar à uma sociedade menos hipócrita.
Para você que ainda acha tudo isso um "mimimi", lembre-se disso quando aquele diretor lhe prometer milhões enquanto passa a mão na sua perna - sendo você de qualquer gênero. Está na hora de você refletir e avaliar os limites dessa situação que podem afetar sua própria ética.
Fernando Jácomo é analista de sistema com MBA em Gestão de Negócios, estudante de História, já ouvia o termo "teste do sofá" desde que os tempos de escola, mas nunca pensou em problematizar ele até conhecer pessoas que sofreram abuso.
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