Por Fernando Jácomo
Papo reto: quando você ouve falar do continente africano, o que você pensa em primeiro lugar? Tribos? Grupos violentos? Leões e elefantes?
Pois bem, esse é um preconceito que diversos historiadores têm tentado desmistificar sobre o continente africano. Afinal de contas, o continente africano abrigou diversas civilizações de grande influência tecnológica e cultural como os Egípcios e os Kush. Hoje, o continente conta com países que são bons exemplos da utilização das tecnologias para o envolvimento social, como o caso da primavera árabe no Egito, que se apoderou das redes sociais (como facebook e twitter) para unir os manifestantes e ganhar notoriedade global.
Mas ainda assim, muitas pessoas pensam que o continente é formado apenas por tribos e leões. E esse pensamento preconceituoso parece atingir o departamento de marketing de grande produtoras de games como caso da Blizzard.
Recentemente, em uma reportagem no
Kotaku, algumas histórias de gamers africanos puderam ser compartilhadas, como a de
Shuaib Sookia da
Maurícia e de
Henré Botha e
Jody Fourie da
Africa do Sul, que alegam não encontrarem servidores disponíveis para poderem jogar. Fãs de
Overwatch, esses jogadores logam em servidores europeus e americanos sofrendo com enorme latência e pouco aproveitamento.
No geral, os jogadores afirmam que, apesar do game ter uma diversidade de personagens grande (incluindo africanos), o game não possui a mesma representatividade de jogadores e, apesar da liga de Overwatch ser mundial, dificilmente jogadores africanos terão condições de disputarem enquanto a Blizzard ou outras empresas não investirem em servidores e tecnologias para processar seus jogos no continente.
O caso não é exclusivo da produtora de Overwatch, o problema se estende para outras franquias competitivas como Counter-Strike, DOTA 2, Battlefield 4 e Call of Duty. Dificultando muito o cenário de eSports surgir com a mesma força no continente.
É evidente que os problemas de investimentos nas mídias e a pluralidade social do continente impedem de vê-lo como um único mercado a ser melhor trabalhado e explorado pelas produtoras de games, entretanto não há um plano de ação efetivo para isso mudar. No final, o problema acaba na padronização das justificativas das produtoras que, segundo o artigo, caminha entre "alto custo" e "poucos jogadores".
As empresas detalham que o mesmo problema ocorre no Oriente Médio e na Rússia, que acabam entrando no mercado asiático. Onde colocar China, Emirados Árabes e Rússia em um único mercado se torna uma estratégia preguiçosa de marketing... porém convenientemente econômica.
Há alguns anos tive a oportunidade de conhecer alguns locais como Cairo (Egito) e Joanesburgo (Africa do Sul), e o que me deparei foi com cenários políticos-econômicos-sociais totalmente diferentes. É impossível chamar tudo de "Africa" e tratar como um mercado único.
Seria mesmo uma questão de não setorizar melhor o continente? Não seria uma questão de olhar a Africa de forma mais estratégica? Será mesmo que existem tão poucos jogadores e espaços para desenvolvimento econômicos de empresas grandes como EA e Blizzard?
Países como Nigéria, África do Sul e Egito têm se destacado muito em questões econômicas - muitas vezes mais do que o Brasil (e nós temos servidores tupiniquins em muitos jogos).
Então qual seria a principal razão? Até que ponto essa justificativa é pautada pela miopia que existe acerca do continente Africano?
Essa seria a chance de grandes produtoras investirem nas regiões africanas de forma estratégica fomentando as comunidades de forma regionalizada - mas integrada mesmo assim. Precisamos que as comunidades gamers se enriqueçam e cresçam cada vez mais globalmente. Não há como alguém sair perdendo nessa.
Afinal de contas, como já se dizia em Overwatch: O mundo precisa de heróis!
Fernando Jácomo é analista de sistemas com MBA em Gestão de Negócios. Estudante de História, está lendo sobre coisas interessantes sobre a história África e acredita que a Internet e a Multimídia têm papel fundamental na história do continente.
Fontes: