segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Como o filme "Planeta dos Macacos: A Guerra" nos dá uma bela lição sobre como a humanidade está se perdendo

Texto sem Spoilers

Por Fernando Jácomo,

Dentro do universo distópico de Planeta dos Macacos, o símio César é considerado muito mais do que um libertador, ele é considerado um messias. Messias de uma raça que se ergueu diante de uma repressão e de um ultra-conservadorismo crescente oriundo de um preconceito e medo, enraizados nos humanos coexistentes da época. Nessa visão, César seria Jesus, ou um anarquista, comunista ou qualquer figura que poderia se opor ao regime dominante estabelecido.

Entretanto, isso é uma objetificação errônea que perdurou por anos na memória dos que seguiram lendo ou assistindo aos materiais de Planeta dos Macacos. Isso gerou uma expectativa onde, desde 2011, temos visto a jornada - em ritmo crescente - de César rumo ao futuro distópico que conhecemos: os macacos dominam a Terra.

Seria evidente pensar que esse terceiro filme da nova trilogia, Planeta dos Macacos: A Guerra, fosse nos trazer ao momento em que os primatas teriam sua soberania e domínio pleno, em um momento digno de Batalha dos Cinco Exércitos de Perter Jackson... só que não. E isso é ótimo!

Não Há Megalomanias

César se torna mais humano nas lentes do diretor Matt Reeves. Andy Serkis, o ator mais injustiçado na arte de atuação digital, transpõem trejeitos de um personagem símio que mesmo diante de tamanha humanidade, quer apenas viver em paz com sua família e outros macacos.

Os planos, que no primeiro ato parecem um Westen Pós-Apocalíptico e no segundo ato, parecem extraídas de Apocalipse Now, trazem interpretações que beiram a uma homenagem à Marlon Brando. E nas sequências desses mesmos planos, vemos uma construção de um César mais simples em objetivos porém mais rico em detalhes. E todos os jargões de liderança se aplicam a César: ele foi escolhido para governar, guiar e proteger os demais macacos. Não há desejo pessoal de grandeza, exceto o desejo viceral do personagem pautado em tonalidades humanas como proteção, amor e vingança. Esses sentimentos se tornam o maior dilema do personagem pois o afastam de sua realidade e o transformam cada vez em algo que ele nega: ser um humano. 

Por fim, diferente dos outros filmes, Serkis tem mais tempo de tela para explorar sua atuação, e dessa vez não precisando de humanos de bom coração querendo ajudá-lo em sua causa ou mesmo no protagonismo de sua jornada.

Tecnicamente o filme peca em querer entregar um terceiro ato grandioso sem ter essa intenção explosiva em sua raiz. É como se um aluno pedisse um exemplo ao professor de uma lição que ele ja sabe a resposta. Porém isso é um detalhe que não estraga o filme e talvez satisfaça à expectativa daqueles que esperam uma "Guerra" - como o nome sugere.

Mas não esperem pela "Guerra". Da mesma forma que houve uma objetificação na "divindade" de César no universo do Planeta dos Macacos, sabemos que a história é apenas de um macaco que aprendeu a ser homem e de como os homens passaram a ser aquilo que enfrentamos hoje na nossa realidade: animais territoriais e preconceituosos. O embate pela involução que o mundo conservador propõe, e é apoiado por diversas pessoas cegas pelo seu medo de perderem seu pseudo-feudo, será a solução do veneno que poderá nos afastar da verdadeira humanidade, na qual carece da necessidade de nos comunicarmos e amarmos, apenas temer.

Nota [1-5]: 4,0
O melhor: Andy Serkis leva o filme inteiro com muito talento e competência.
O pior: A necessidade do ápice no terceiro ato quebra um pouco a sutileza gerada durante o filme todo.

Fernando Jácomo é Analista de Sistemas, entusiasta em História e, além de gostar de cinema e games, tem nos macacos os seus animais preferidos.

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