O buraco é mais embaixo.
Fonte: http://www.arkade.com.br/ |
Lembro-me como se fosse ontem - porém há cerca de 4 anos atrás - assisti às conferências da Sony e Microsoft pela Internet quando ambas as empresas anunciaram os seus novos consoles: Xbox One e Playstation 4. Confesso que fiquei muito mais interessado no console da Sony, por ser um pouco mais apaixonado por Uncharted e God of War.
Estava ainda bestificado com os gameplays do novo "The Last of Us" - que estava em vias de ser disponibilizado nas lojas - e pensei: "Caramba, como serão esses jogos? O que falta para alcançarmos a perfeição?" (frase que é dita pelos nerds a cada nova geração).
Porém, algum tempo depois, a Sony Brasil ainda se recusava a publicar o preço oficial e todas as brincadeiras e memes já rolavam pela Internet. Me lembro até de um meme com a foto da Dilma, com uma balão: "bonito esse PS4, seria uma pena se viesse no preço de um carro".
Foi então que a Sony Brasil anunciou o preço: R$ 4999,99 - não era o preço de um carro popular, mas era o preço do meu primeiro carro (na realidade era da minha mãe) quando era um jovem adulto - um velho Escort 89.
O argumento da Sony para o preço foi trabalho em cima da carga tributária e lucro do varejista.
Na época, além de termos o Iphone mais caro do mundo, tínhamos o videogame mais caro do mundo. Compensava ir para Miami, comprar um Playstation 4 lá e voltar.
Causas do problema
Alguns motivos operacionais levaram à essa situação também: a Sony havia acabado de iniciar a produção e venda de Playstation 3 dentro do Brasil - seria preciso se livrar o quanto antes de todo esse estoque. Porém a questão da carga tributária era assustadora pelo simples fato de que aparelhos e jogos de videogame são vistos como jogos de azar e tributados como tal. Em termos gerais e leigos, para nosso governo, uma máquina de caça-níquel tinha o mesmo problema social que um Nintendo Wii.
No final, o motivo que levou o Xbox One e o Playstation 4 a serem os mais caros do mundo foi o mesmo catalisador da pirataria do final dos anos 90 e por todo os anos 2000 do PSOne e PS2. Ninguém estava acostumado a pagar por tanto e agora não havia saída. Nem mesmo a geração anterior havia escapado imune, mas apesar da trava no PS3 e das medidas de segurança online, o Xbox 360 ainda aceitava pirataria "de boas" desde que não utilizasse recursos da rede. Uma alternativa Legal nesse mar de ilegalidades e piratas era o PC e celular, que possuem exceções fiscais, sendo considerados pela Receita Federal como "aplicativos" e não "jogos", sofrendo aplicações de impostos diferentes.
Para consoles e fliperamas, operacionalmente o Brasil sempre foi um mercado inviável e pouco rentável. Empresas como Sony, Microsoft e Nintendo precisam dos seus relevantes milhões e nosso governo nunca colaborou - desde sempre.
Estávamos entre a cruz e a espada, sem podermos recorrer à pirataria e ao mercado Legal. Era hora de gastar uma grana preta.
Uma luz no fim do túnel
Acredite, esse texto não tem um viés político: todos os partidos nunca tiveram competência e capacidade intelectual suficiente para separarem o joio do trigo. Os governos de Sarney, Fernando Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma foram igualmente míopes e desnecessários para o processo anti-pirataria com o único plano de favorecerem os cofres públicos diante de um mercado em crescimento.
A medida de aplicar altos impostos nunca afastou os freemiums (verdadeiros caça-níqueis disfarçados de jogos de celular) do mercado e sempre houve vista grossa para o mercado ilegal. A solução sempre foi paliativa: chamavam a polícia.
Recentemente, o senador Telmário Motta (foto ao lado - fonte) aprovou uma sugestão popular Sug 15/2017, que visa diminuir os impostos dos jogos de videogame. Se a medida for aprovada, teremos um bom desconto permitindo que as empresas venham a se interessar pelo Brasil de novo e ganharmos mais relevância oficial e legal no mundo dos games.
Ainda estamos longe mas há um lado bom
Fonte: http://www.culturamix.com/tecnologia/pirataria-em-alta-no-brasil/ |
Lembro-me quando em 1999 muitos amigos \tinham tantos CDs gravados - saindo pela culatra, vãos, cantos e qualquer esconderijo de casa - de PSOne que sequer haviam jogado. Nunca uma coleção de jogos foi tão maltratada como naquela época. São dezenas de jogos iniciados sem terminar. Não havia seleção natural exceto quando o jogo era bom.
Hoje, ainda estamos diante de muito imposto e pessoalmente escolho com muita cautela cada jogo que compro em uma loja. Faço as perguntas básicas: eu mereço? eu vou jogar? esse jogo é raro? vai ficar em promoção algum dia? Além do mais, analiso todos os reviews antes de comprar, consulto amigos e mesmo assim me engano (alguém disse "No Man's Sky"?), porém trato minha biblioteca com mais respeito. Tenho uma prateleira bem arejada reservada para ela, organizo os discos por ordem alfabética e mantenho um diário dos jogos que finalizei.
Mas por que faço isso? Simples, porque me custou muito consegui-los! Custou literalmente! Não espero que a sugestão endereçada pelo senador Telmário Motta reduzirá os custos em mais do que 20% ou mesmo que o mercado de games ganhará o devido respeito por conta dessa situação. Mas colocarmos em pauta esse assunto ou mesmo começarmos a tratar os videogames como um entretenimento sério, uma mídia justa, uma plataforma para arte, respeitar nosso dinheiro em uma compra, apoiar eventos e, se a nossa condição financeira permitir, nos darmos respeito ao dizer "não" para pirataria, será um bom começo. Mas não julgo que não pode pagar pelo produto oficial, afinal de contas, videogame ainda é caro pra burro e está em uma indústria que é um verdadeiro caça-níquel rentável e viciado para outras máquinas.
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